segunda-feira, 30 de março de 2009

Ku Klux Klan, 2009



O Ku Klux Klan continua vivo. Em 2009. Na América de Obama. Estas fotografias de Anthony Karen publicadas no Independent revelam cenas raras da vida dos membros de um dos mais poderosos grupos de Alabama: também eles têm filhos, miúdos que brincam em almoços de família, em casamentos.
O trabalho do fotógrafo norte-americano está reunido num livro, The Invisible Empire, que acaba de ser editado nos EUA pela PowerHouseBooks.

domingo, 29 de março de 2009

a verdade, nua e crua

A Playboy chegou a Portugal... com 50 anos de atraso. Os meus amigos estão muito desanimados. Em vez da Marilyn têm a Mónica Sofia. Em vez das entrevistas com o Fidel Castro ou o Martin Luther King, levaram com o Costinha. Em vez das ficções do Kerouac ou do Nabokov, saiu-lhes o Pedro Paixão (vá lá, rapazes, este não é assim tão mau). Até a festa, contaram-me alguns moçoilos deprimidos, foi murcha...
Não sei do que estavam à espera (e não quero nem começar a imaginar) mas acho que andaram todos a ver filmes a mais. E a verdade, nua e crua, é que nos EUA a revista também já não é o que era. Longe vão os tempos deste nº 1, onde o erotismo se aliava ao bom gosto. Sorry, guys...

Rúben, grávido de gémeos

(Foto: SUSANNA SÁEZ/El Pais)

Lembram-se de Thomas Beatie, o «homem grávido» que, no ano passado, deixou os EUA (e o mundo) de boca aberta? Pois bem, em Espanha, o El Pais revela hoje o caso de Rúben Noé. Noutra vida, chamava-se Estefanía. Tal como o americano, é um transexual que não levou até ao fim a mudança de sexo. Nunca retirou os ovários e, depois de uma inseminação artificial, desejada e partilhada com a sua companheira, Esperanza, 17 anos mais velha, Rúben está agora grávido de 9 semanas. De gémeos. O parto está previsto para Setembro.

sábado, 28 de março de 2009

conta-me histórias

Cinco anos depois de Budapeste, Chico Buarque lançou hoje no Brasil um novo livro, Leite Derramado. O tema, conta o jornal Globo, volta a ser a solidão. Ou a história de um homem velho que, no leito do hospital, revisita o próprio passado e, por extensão, a transformação da sociedade brasileira.
Vale a pena espreitar o site do Globo, onde Chico lê uma passagem do novo romance. Onde o velho que habita as páginas deste livro fala connosco, cara a cara, deixando conselhos como este:

«Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta.»

sexta-feira, 27 de março de 2009

reset


Gosto desta capa. E da promessa contida no texto. New beginnins... Que bom seria se a vida tivesse um botão assim. Reset. Start all over again.

quinta-feira, 26 de março de 2009

preciosidades

Uma short-story à volta de lagostas, crises financeiras, Bernie Madoff e a reencarnação, num restaurante de Manhattan.
Woody Allen no seu melhor, na última edição da New Yorker.

quarta-feira, 25 de março de 2009

In memoriam

A Visão faz hoje 16 anos. Desde 2006, estes «dias de festa» são sempre agridoces. Falta-nos o Cáceres. Hoje, aqui na redacção, voltámos todos por momentos à sua companhia, recordando este vídeo, realizado por ocasião do 10º aniversário da revista.
Como mantenho desde o primeiro dia deste blog, ali naquela coluna da direita, ele faz-nos tanta falta, todos os dias. Mas há dias piores do que outros. Dias em que nos faltam as palavras para explicar a dimensão das saudades que temos dele. Por isso, perdoem-me a falta de originalidade, mas «reciclo» aqui parte de um texto que publiquei na revista, na semana em que ele nos deixou.


«O Cáceres Monteiro era, para os jornalistas da Visão, muito mais do que um director: era um companheiro, um professor, um amigo. E um extraordinário repórter. O melhor de todos nós.
Viajou por todo o mundo, publicou centenas de reportagens, escreveu vários livros, foi premiado por diversas vezes. E, contudo, nunca deixou de pedir uma opinião ou um conselho aos repórteres mais novos que com ele trabalhavam. Por mais de uma vez, chegou mesmo a pedir «permissão» para ser ele a partir em reportagem...! Essa humildade perante o trabalho é, talvez, o maior legado que nos deixou. Aqui, todos sabemos que, para seguir os passos do Cáceres, não podemos caminhar de nariz emproado, partir com ideias feitas nem voltar sem cicatrizes no coração.
Como disse o Luís Almeida Martins, na manhã da notícia mais triste, com ele morreu um pouco de todos nós. Mas há também um pouco dele que permanece em cada um dos que tiveram o privilégio de com ele trabalhar: o seu exemplo de coragem, determinação, independência e rigor; a recordação da sua generosidade, humor, intuição e talento; a memória do seu sorriso.
O Cáceres viverá para sempre no nosso coração. E em cada olhar curioso, em cada reportagem.»



A Visão faz hoje 16 anos. Parabéns, Cáceres.

segunda-feira, 23 de março de 2009

leitura da semana

AVISO: A New Internationalist é uma revista assumidamente alinhada à esquerda. E, nas suas páginas, há apenas lugar para o jornalismo de causas. Fundada em 1973, era inicialmente financiada pelas organizações Oxfam e Christian Aid, que pretendiam sensibilizar a opinião pública britânica para as questões da pobreza, do desenvolvimento do terceiro mundo e, claro, apelar à solidariedade. A NI hoje já não é patrocinada - a não ser pelos seus (fiéis) leitores. E é a revista que acaba por financiar muitas campanhas destas e de outras ONG's através da comercialização de produtos como t-shirts, calendários ou kits para manifestações pacifistas...
A NI, apesar dos seus 35 anos, mantém-se rebelde. Não tem pudor em fazer um anúncio como este:
'I never read the New Internationalist»
- former Lehman Brothers Banker
DON'T BE A BANKER. GET REAL.
Apesar deste «compromisso editorial», o seu jornalismo é tão (ou mais) independente que o de outras publicações britânicas. Em 2008 a New Internationalist recebeu o UTNE Independent Media Award para «Melhor Cobertura de Temas Internacionais», pela oitava vez.
Este mês, antecipando as grandes questões que (espera-se) estarão em discussão na Cimeira sobre o Clima das Nações Unidas, que se realizará em Dezembro, em Copenhaga, e que deverá conduzir à assinatura de um novo acordo internacional, pós-Quioto, sobre a redução dos gases com efeito de estufa, a NI publica um texto excepcional de Danny Chivers. Uma versão mais longa está também disponível do blog do autor, A Daisy Through Concrete.
Foi a capa da revista, inspirada na célebre fotografia da batalha de Iwo Jima, que começou por captar a minha atenção. Depois, o texto conquistou-me... logo às primeiras linhas. Acreditem, será difícil encontrar artigo mais esclarecedor sobre os desafios actuais do nosso planeta. E, confesso, tão depressa não esquecerei a imagem destes coelhinhos...

«Imagine 10 rabbits lost at sea, in a boat carved out of a giant carrot. The carrot is their only source of food, so they all keep nibbling at it. The boat is shrinking rapidly – but none of them wants to be the first to stop, because then they’ll be the first to starve. There’s no point in any of them stopping unless everyone stops – if even one rabbit carries on eating, the boat will sink. This is the international climate crisis in a (Beatrix Potter-flavoured) nutshell: action by individual nations achieves little unless we all act together.»

domingo, 22 de março de 2009

New York, New York

( Nova Iorque, por Ted Croner)

Ontem, no Porto, percebi as saudades que tinha de alguns amigos. E de outras coisas.
De Nova Iorque, por exemplo. Hoje, no El Pais, descobri este texto de Antonio Muñoz Molina, Imagens da Cidade Perdida. O artigo tem o pretexto da inauguração, em Madrid, da exposição Retratos de Nova Iorque - Fotografias do MOMA. Mas fala, sobretudo, das razões que levaram tantos fotógrafos (e tantos de nós) a apaixonarem-se pela cidade. Detive-me nesta frase: «NY vive, em parte, de explorar cinicamente os sonhos insensatos que ela mesma provoca». É provável. Espero conseguir regressar este ano, para perceber melhor...

sexta-feira, 20 de março de 2009

à beira de um ataque de nervos

É tão verdade...! Pode haver traições, porrada, drogas, filhos ilegítimos (e inesperados) ou «incompatibilidades irreconciliáveis», como os actores de Hollywood gostam de dizer, a separar um casal. Mas, muitas vezes, são os pequenos nadas que minam uma relação.

Aquelas pequenas coisas irritantes como... deixar as meias sujas no chão, comer de boca aberta, sorver as bebidas quentes, ajeitar cinquenta e três mil vezes a merda do cinto. Enfim. Que atire a primeira pedra quem não se revir, nem que seja um bocadinho, no texto de capa da Psychology Today deste Março/Abril.

É claro que (e poupo-vos ao texto todo, se não tiverem pachorra, mas é um bom texto), como esta é uma revista de psicologia, o conselho que daqui se espreme acerta-nos em cheio, qual boomerang. O problema, escrevem eles, é de quem se irrita com estas coisas. Há que mudar «a perspectiva», insistem eles. Às vezes, uma meia no chão é só uma meia no chão. Dizem eles, claro.

quarta-feira, 18 de março de 2009

mais vale tarde?

Sean foi condenado pela justiça britânica pela violação e assassinato de uma mulher, em 1979. Hoje foi libertado graças a uma análise de ADN, que determinou, sem margem para dúvidas, que é inocente. Ele bem o gritava, nas alas psiquiátricas onde o encarceraram. O seu pesadelo durou 27 anos. Haverá indemnização que compense um erro destes?

segunda-feira, 16 de março de 2009

histórias do outro mundo

Foi espia do império britânico, amante de Lawrence da Arábia, gerente de um hotel no deserto sírio, traficante de ópio... uma mulher de origem espanhola, aventureira e misteriosa, de seu nome Marga d’Andurain.
A «Mata Hari basca», como lhe chama o El Pais num artigo publicado este domingo na revista EPS, marcou todos os que a conheceram desde meados dos anos 20 até 1948, ano em que foi assassinada em Tânger, a bordo do seu veleiro.
Agora todos vamos poder conhecê-la, e ficar irremediavelmente deslumbrados com as suas aventuras, graças à investigação de Cristina Morató, que a 3 de Abril publica em Espanha um livro sobre a sua vida.
«Cautiva en Arabia. La extraordinaria vida de la condesa Marga d'Andurain, espía y aventurera en Oriente Próximo», ed. Plaza & Janés

sábado, 14 de março de 2009

repensar o sonho americano

O que resta do «american dream»? A Vanity Fair traça a história, aponta as mudanças e fala dos méritos de, em tempos de crise, existir um ideal unificador... e inspirador.

quinta-feira, 12 de março de 2009

o mundo em transformação


O artigo de capa da Time desta semana fala-nos do mundo em transformação, ainda e sempre a propósito da crise. Aquilo que temos de mais valioso agora, consideram os analistas ouvidos, já não é uma casa ou uma conta com uns dinheiros de lado, mas sim um posto de trabalho. O emprego, ou a falta dele, é apenas um dos 10 tópicos deste artigo que, dependendo da perspectiva, pode ser inspirador ou assustador... mas sempre interessante.

and now, for something completely different...


«Numa pista de corridas de cavalos em Paris, um jornalista dá a uma estrela de cinema 1 600 dólares do seu dinheiro - não foi dinheiro da Esquire. Seu. Parecia uma boa forma de descobrir mais coisas sobre o homem, deixando-o apostar o seu dinheiro. E foi.»
Uma viagem irresistível, nesta edição da Esquire. Não é um perfil, não é uma entrevista, é um híbrido viciante, que nos agarra da primeira à última linha. (Pronto, eu talvez tenha este defeito de gostar de cavalos e do Clive Owen).
Ah, já agora... o jornalista perdeu todo o seu dinheiro, claro. Bloody french horse...!

quarta-feira, 11 de março de 2009

11-M

Foi há 5 anos que a Europa acordou em sobressalto. Dez bombas explodiram em quatro comboios, entre as 7h37m e as 7h40m, na linha suburbana que liga Alcalá de Henares a Atocha, no centro de Madrid. Em menos de três minutos, 191 pessoas morreram e 1 824 ficaram feridas. O ataque foi reivindicado pelas Brigadas Abu Hafs Al Masri, em nome da Al-Qaeda.
Cinco anos depois, o El Pais desvenda alguns pormenores da vida dos 15 homens condenados pela justiça espanhola, 12 estrangeiros e 3 nacionais, que têm tratamento diferenciado: os muçulmanos estão em isolamento, os outros não. O último condenado sairá da cadeia em 2044.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Pelo Tibete


Amanhã é terça-feira. Mas não será uma terça-feira qualquer para o governo de Beijing, como tão bem explica o New York Times.

Amanhã, 10 de Março, passam 50 anos sobre o dia em que o Tibete caiu nas mãos da China. O Dalai Lama vive no exílio desde então. Dos templos e escolas budistas tibetanas pouco resta. Da língua e cultura tibetana, idem aspas. Milhares de monges foram mortos, presos, torturados. O Dalai Lama, Prémio Nobel da Paz (já lá vão 20 anos...!), é criticado por não lutar pela independência, aceitando, desde há muito, que o Tibete possa ser uma região chinesa, desde que autónoma a nível cultural e religioso. Mas a China prefere continuar a chamá-lo de «separatista». E os líderes do «Mundo Livre», tão pródigos em pregar a democracia noutras paragens, continuam a fingir que não ouvem, que não vêem, que não sentem.

Mas amanhã, 10 de Março, milhares de cidadãos voltarão a manifestar-se em frente às embaixadas da China, por esse mundo fora. Em Lisboa também haverá protestos, promovidos pelo Grupo de Apoio ao Tibete (às 19h, junto à Embaixada da R.P.C., Rua S. Caetano, 2, à Lapa).

Pequenos beliscões na caparaça de um gigante... A China mostrar-se-á incomodada, ofendida, injustiçada. Os principais líderes mundias vão fugir ao assunto. E depois de terça-feira virá quarta. E o Tibete voltará a cair no esquecimento. Para que os negócios possam continuar, como de costume.

domingo, 8 de março de 2009

À conversa com Almodóvar

(Foto: SOFÍA SÁNCHEZ e MAURO MONGIELLO/El Pais)

Porque hoje é Dia da Mulher. Ou apenas porque Pedro Almodóvar merece, seja em que dia for, ser reconhecido como um dos cineastas que melhores papéis criou à medida das suas musas: sempre complexos, luminosos, inesquecíveis.

Leia-se, portanto, em jeito de homenagem, a bela entrevista com o realizador, que o El Pais hoje publica. Onde ele fala, por exemplo, das enxaquecas crónicas que o perseguem e de como a fobia à luz que desenvolveu o inspiraram a criar uma das personagens centrais do seu novo filme - um cineasta que fica cego.

Abrazos Rotos (abraços partidos, ou desfeitos, numa tradução livre) estreia em Espanha daqui a 10 dias. Uma longa metragem que marca o seu regresso ao film noir, com Penélope Cruz como actriz principal. É a quarta vez que Pe, recém-galardoada com o Óscar de Melhor Actriz Secundária, protagoniza um filme do mestre espanhol.
O filme chega às salas de cinema portuguesas a 3 de Setembro.

sexta-feira, 6 de março de 2009

leitura da semana

«Radical Islam is a fact of life. How to deal with it.»


A Newsweek dedica a capa desta semana ao «Islão Radical», destacando mais um texto interessante de Fareed Zakaria - uma sumidade na cobertura destes temas, apesar de, na minha opinião, ser uma pena ele sentir sempre tanta necessidade de afirmar o seu patriotismo e fidelidade à América...
Mas se aqui o destaco é porque este artigo vale mesmo a pena, acreditem. É daqueles que deixará marcas, como o seu Why do They Hate Us?, de 2001. É uma análise rigorosa do actual (re)posicionamento dos EUA em relação aos países do mundo islâmico e passa uma mensagem fundamental que, espera-se, possa chegar de vez à opinião pública americana (e ocidental, em geral): a de que já é tempo de acabar com esta coisa de tratarmos todos os islâmicos como terroristas.
Sobre os movimentos radicais, do Paquistão ao Afeganistão, da Indonésia à Nigéria, das células activas na Europa ao domínio do Norte de África, Zakaria fala de tudos. E levanta questões fundamentais sobre a estratégia de combate aos fundamentalistas, seguida pelos EUA (e Europa) nos últimos anos:
«We have placed ourselves in armed opposition to Muslim fundamentalists stretching from North Africa to Indonesia, which has made this whole enterprise feel very much like a clash of civilizations, and a violent one at that. Certainly, many local despots would prefer to enlist the American armed forces to defeat their enemies, some of whom may be jihadists but others may not. Across the entire North African region, the United States and other Western powers are supporting secular autocrats who claim to be battling Islamist opposition forces. In return, those rulers have done little to advance genuine reform, state building or political openness. In Algeria, after the Islamists won an election in 1992, the military staged a coup, the Islamists were banned and a long civil war ensued in which 200,000 people died. The opposition has since become more militant, and where once it had no global interests, some elements are now aligned with Al Qaeda
Como é possível cometerem-se os mesmos erros, uma e outra vez?
Um texto para ler e reler. Até compreender.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Darfur em Haia

O Tribunal Penal Internacional emitiu hoje um mandato de detenção contra o presidente sudanês, Omar al-Bashir, por crimes de guerra e crimes contra a humanidade. É a primeira vez que o TPI acusa um governante ainda em funções. O Sudão não reconhece autoridade ao tribunal de Haia e, como conta o Guardian, em Cartum já começaram as manifestações de apoio ao presidente.
Em retaliação, o Sudão ordenou já a expulsão das organizações não governamentais que trabalham no Darfur, como os Médicos Sem Fronteiras ou a Oxfam - que prestam ajuda vital aos mais de 2,7 milhões de deslocados e refugiados causados pelo conflito, que se arrasta desde 2003 e já causou mais de 300 mil mortos.
P.S. Sem preconceitos, vale a pena espreitar o texto que George Clooney escreve hoje no The Daily Beast.

uma questão de consciência

(Foto: Yannis Behrakis/Reuters)
Não é fácil ser objector de consciência em Israel. No Guardian Weekly, a activista Sahar Vardi explica os motivos da sua recusa em cumprir o serviço militar obrigatório. Tem 18 anos e já foi presa três vezes. Sempre que sai da cadeia, tem de se apresentar novamente no centro de recrutamento. Sahar comparece, apenas para dizer que não pegará em armas para ocupar os territórios palestinianos. E volta a ser processada, julgada, presa. Este processo pode repetir-se ad eternum. Mas ela jura que não se renderá.
Sahar é uma das 100 adolescentes israelitas do grupo Shministim que, desde o ano passado, pedem ao governo de Telavive que respeite o seu direito a dizer «Não».

terça-feira, 3 de março de 2009

Algumas linhas... sobre Bissau

Na imprensa internacional, a notícia do duplo atentado na Guiné Bissau mereceu bastante destaque, havendo sempre referências aos negócios da droga que tomaram conta daquele país da África Ocidental. Veja-se a Time, o Guardian, o New York Times. Na imprensa portuguesa, o poder destes negócios tem sido relegado para uma nota de rodapé... quando muito. Até que ponto o dinheiro da cocaína é importante nesta história, só o tempo o dirá.
A Guiné Bissau é, desde há alguns anos, um narco-Estado fora de controlo, como tão bem contou a Cândida Pinto no Expresso, em Novembro de 2007. Cinco meses antes, já a Time publicava uma arrepiante reportagem sobre o mesmo tema, Cocaine Country. Em Julho do mesmo ano, o Independent também revelava que «entra todos os dias em Bissau mais de uma tonelada de cocaína vinda da Colômbia, com destino à Europa». Em Março de 2008, o Guardian dava à Guiné honras de Grande Reportagem, designando já a ex-colónia portuguesa como «o mais importante narco-Estado do mundo». E, em Janeiro de 2009, o Telegraph seguiu o rasto da droga desde Bissau até às ruas de Londres, contando como aquele pedaço de África foi definitivamente «conquistado» pelos cartéis colombianos.

De Lisboa apelou-se à calma e a um rápido restabelecimento da ordem constitucional. Mas, como perceberá quem ler estas reportagens, a ordem, a lei e a democracia há muito que abandonaram Bissau.

domingo, 1 de março de 2009

O senhor Reprieve

(Foto: Jordi Adriá/El Pais)
Clive Stafford Smith foi o primeiro advogado a contestar a legalidade de Guantánamo. Americano de ascedência inglesa, fundou a organização Reprieve há 20 anos - a mesma que tem liderado as investigações aos voos da CIA, transportando prisioneiros para a prisão militar norte-americana em Cuba, com passagem por Portugal.
No El Pais de hoje, Smith partilha algumas das complicações da missão a que se entregou a tempo inteiro, desde 2002. Por acreditar que todos os homens têm direito a uma defesa, por pior que possa ter sido o crime que cometeram, queria oferecer os seus serviços, gratuitamente, aos detidos de Guantánamo. Mas, para isso, teria de saber os seus nomes - e os EUA não revelavam as identidades dos prisioneiros. Depois de meses de investigações, já com alguns dados, contactou novamente as autoridades americanas, dizendo que os queria defender. A sua oferta foi recusada. «Disseram-me que só poderia representá-los com o seu pedido expresso. 'Então podem perguntar-lhes se querem que os defenda?' Não, isso não podemos fazer.» Era um círculo vicioso. Mas Smith conseguiu furá-lo descobrindo e contactando familiares dos detidos. No caso de cidadãos britânicos e australianos, a lei era clara e permitia que a família nomeasse um defensor.
Em Novembro de 2004, Smith conseguiu entrar pela primeira vez em Guantánamo, como advogado dos britânicos Moazzam Begg e Richard Belmar. Todas as entrevistas e notas dos seus encontros com os detidos tinham de ser enviadas em envelope fechado desde a prisão para o Departamento de Estado norte-americano. O material era lido, censurado ou «classificado» e só o que os EUA permitissem é que poderia ser tornado público. Smith decidiu escrever uma carta de 40 páginas ao primeiro-ministro Gordon Brown, descrevendo as condições de tratamento aos dois cidadãos ingleses que representava. A ousadia deu resultado e valeu-lhe o apoio do governo britânico à sua causa. Gordon Brown recebeu a carta, com mais de 90% do conteúdo censurado (riscado a negro, tornando a leitura impossível.) No final, «sobrevivia» uma pequena nota de Smith: «Tudo o que aparecer riscado nesta carta é informação que os seus aliados dos EUA não consideram que o senhor deve conhecer.»