domingo, 31 de agosto de 2008

realidade vs ficção

Não sei se é defeito de jornalista mas, quando não estou a ler relatos da vida pura e dura, tenho vindo a interessar-me cada vez mais pelas histórias de ficção inspiradas na realidade. E, como acontece com o novo livro de Geraldine Brooks, The People of the Book (ainda não editado em Portugal), não consigo deixar de pensar que a história verdadeira em que se inspirou é muito mais interessante do que a imaginada pela autora...
Lendo o artigo publicado hoje na revista do El Pais, assinado por Brooks (que o escreveu em 2007, a pedido da revista New Yorker), não consigo entender porque necessitou de inventar uma australiana especialista em conservação de manuscritos para ser a heroína da sua história (pode ler aqui a crítica do New York Times à obra de ficção). Os heróis já estavam todos criados, foram pessoas de carne e osso, que arriscaram as suas vidas, na Espanha do século XIV e na Jugoslávia da II Guerra Mundial, para salvar um livro - o Haggadah, um manuscrito judeu raro.
Dervis Korkut, um erudito muçulmano e director da biblioteca de Sarajevo, que recusa entregar o livro a um general nazi, salvaria, ao mesmo tempo, uma adolescente judia, que acolheu em sua casa. E foram os relatos dessa mulher, Mira Papo, que viriam a salvar, já em 1999, a mulher e os filhos de Korkut, quando estes tiveram de fugir a mais uma guerra, no Kosovo. Foram acolhidos em Israel, recebidos como heróis pelo então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
A história real tem pormenores fabulosos, bem descritos no artigo hoje publicado no El Pais (que podem ler em inglês, se preferirem, aqui). É uma história imperdível, garanto-vos, fruto do trabalho de pesquisa da autora australiana (ex-jornalista), que viajou entre os Estados Unidos, Bósnia e Israel em busca da verdade sobre a saga do Haggadah e dos heróis que o salvaram.

P.S. Da mesma autora, está editado em português O Idealista - Uma História de Amor em Tempos de Guerra (Ed. Oceanos), March, no título original, Prémio Pulitzer de Ficção 2006.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Carpe diem

«A vida é uma viagem curta.» David Freeman escreveu-o no início deste livro, 100 coisas a fazer antes de morrer, que se tornou num clássico entre aqueles que gostam de viajar, conhecer outras culturas... e viver experiências fortes. Freeman morreu hoje, aos 47 anos, na sequência de um acidente estúpido. Estava em casa, em Los Angeles, caiu e bateu com a cabeça.
Como escreve Alexander Chancellor no Guardian, apesar da maioria das experiências recomendadas por Freeman serem demasiado loucas para seguir à letra, cumpriram a missão de nos recordar que a vida é demasiado curta e que existem coisas melhores para fazer do que ficar enterrado no sofá a ver televisão. Que devemos viver cada dia das nossas vidas como se fosse o último. Carpe diem.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

my name is vieira

A jornalista de ascendência açoriana Meredith Vieira, apresentadora de um dos mais populares programas da televisão norte-americana, o Today Show, na NBC, resolveu viajar até ao Faial e partilhou alguns desses momentos no programa de ontem. Foram mais de 10 minutos a falar dos Açores, numa divertida viagem em busca das suas raízes - e da pronúncia correcta do seu nome...
Carlos César enviou hoje uma mensagem de felicitações à jornalista pela "excelente e emotiva reportagem que fez sobre a sua terra natal”. Fica-lhe bem. Afinal, nem todo o orçamento do turismo açoriano chegaria para pagar tanta (e tão boa) publicidade...

este homem queria matar Obama?

(Foto: Tharin Gartrell, um dos suspeitos detidos ontem em Denver/AP)

Quatro pessoas foram ontem detidas em Denver, no Colorado, nos arredores do local onde decorre a Convenção Democrata, na posse de várias armas com miras telescópicas, camuflados, coletes à prova de bala e walkie-talkies. Segundo o Times, um dos homens terá confessado à polícia que tinham uma missão clara: assassinar Barack Obama.
O plano estaria em marcha para matá-lo durante o seu discurso de aceitação como candidato democrata à Casa Branca, na próxima quinta-feira - um dia simbólico, em que passarão exactamente 45 anos sobre o discurso de Martin Luther King, I have a dream.
Tive o privilégio de assistir a um comício de Obama há cerca de um mês, em New Hampshire, e vi bem como o medo de que possa ser morto é real: a segurança em torno do candidato é impressionante. Todos os apoiantes são revistados várias vezes e os seus pertences inspeccionados por polícias e cães, já depois de passarem por detectores de metais. E em pontos chave, bem como no meio do público, é impossível não reparar nos men in black que protegem o senador há mais de um ano. Esperemos que mantenham os olhos bem abertos - os EUA não precisam de outro mártir, mas de um novo líder.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

leituras da semana

Começou hoje a Convenção Democrata, em Denver, onde Barack Obama será oficialmente nomeado candidato à Casa Branca. A acompanhá-lo nessa corrida, como se sabe desde sábado, estará Joe Biden, 65 anos, o histórico senador de Delaware que era, até esta semana, o presidente da comissão de relações internacionais do Senado norte-americano.
Para assinalar este importante momento da campanha eleitoral a revista Time publicou uma edição especial dedicada aos Democratas. O texto principal analisa ao pormenor a estratégia e a mensagem de Obama. Uma espécie de «best off» do muito que já foi dito (e escrito) sobre o senador de Chicago mas, ainda assim, interessante.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Madrid de luto, outra vez


152 mortos. 19 feridos graves ainda hospitalizados. Madrid está de luto, outra vez.
O funeral conjunto de todas as vítimas está marcado para 1 de Setembro, na catedral de Almudena, em Madrid.
O diário El Pais abriu uma página especial online com toda a informação sobre o acidente aéreo e que é, acima de tudo, um óptimo exemplo de serviço público.
O jornal ABC adianta que as câmaras de vigilância do aeroporto de Barajas captaram o momento do acidente e que é notória a dificuldade do avião, que não tinha potência suficiente para concretizar a descolagem. Mas ficará também claro nessas imagens que o motor do avião não se incendiou no ar, como os primeiros testemunhos indicavam. Que terá acontecido? A comissão de inquérito promete respostas daqui a um mês.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

um actor revolucionário

Imperdível este artigo do El Pais que nos revela o ambicioso projecto do actor Benecio del Toro e do realizador Steven Soderbergh (e que os ia enlouquecendo!): transpor para cinema a vida do mítico Che Guevara. Depois de muitos problemas para conseguir o financiamento necessário, fizeram não um mais dois filmes. Ou melhor, um filme em duas partes: O Argentino, que já foi apresentado em Cannes, onde conquistou o aplauso rendido da crítica, e Guerrilha, que o mundo poderá ver em 2009. Ao El Pais falam de todas as dificuldades ao longo do processo criativo mas também das vitórias que, agora que o pesadelo das filmagens acabou, esperam alcançar.
Benicio del Toro e Steven Soderbergh já tinham trabalhado juntos em Traffic e a interpretação de um polícia honesto na luta contra a droga valeu o óscar de Melhor Actor Secundário a del Toro e o de Melhor Realizador a Soderbergh. Com este projecto têm boas hipóteses de repetir essa proeza. A semelhança entre Benicio e Che é assombrosa apesar de, como disse bem-humorado o realizador na entrevista ao El Pais, o actor porto-riquenho não ser tão bonito...
«É uma das poucas vezes em que interpreta um personagem que é mais 'guapo' do que ele. O Che parecia mais uma estrela de cinema do que o Benecio.»

sábado, 16 de agosto de 2008

será o bigfoot?


De vez em quando, a imprensa conta-nos histórias tão impressionantes como esta: dois amigos norte-americanos juram ter encontrado a criatura que aqui se apresenta, nada mais, nada menos que... Bigfoot! Este «abominável homem das neves», com 226 kg e 2,30m de altura, terá sido encontrado morto num bosque mas o duo diz que avistou outras criaturas semelhantes nas florestas do Estado da Geórgia e que pretendem capturar agora um exemplar vivo.
O episódio foi contado ao mundo hoje, em conferência de imprensa. Mas, além da suas palavras, Matt Whitton e Rick Dyer avançaram apenas duas fotografias e nenhuma prova científica que aponte, ainda que remotamente, para a possibilidade de esta ser uma espécie desconhecida. Testes de ADN estarão a ser realizados para determinar a veracidade da história. Mas a maioria dos especialistas ouvidos pelos jornalistas não precisa de esperar pelos resultados...
Por via das dúvidas, quem quiser acompanhar o desenrolar desta história pode ir conhecendo mais detalhes no site da Organização de Investigadores do BigFoot (sim, existem centenas de pessoas que se dedicam a esta missão!) ou no site dos aventureiros da Geórgia.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

na terra natal de Stalin

(Foto: Dmitry Kostyukov/Agence France-Presse — Getty Images)

O conflito no Cáucaso continua a encher as primeiras páginas nos jornais de todo o mundo. Indo além das hard news, o New York Times publica hoje uma reportagem de Sabrina Tavernise acompanhando um grupo de soldados russos na tomada da terra natal de Stalin, na Geórgia. E o Washington Post publica um artigo sobre «a outra guerra» em curso - no ciberespaço. O governo de Tiblissi acusa a Rússia de ter atacado os sites governamentais georgianos, impedindo a partilha de informações com a população. Recusando a rendição, recolocaram os sites de importantes ministérios, como o da Segurança Interna e da Informação, no Blogspot...

domingo, 10 de agosto de 2008

os livros das nossas vidas


A revista de domingo do El Pais pediu a 100 escritores de língua espanhola que escolhessem os 10 livros que mudaram as suas vidas. O resultado é uma lista de 100 obras incontornáveis da literatura universal. Deixo-vos o top 10 (podem ver as escolhas detalhadas dos escritores aqui) lançando o desafio: quantos destes clássicos é que (ainda) não leram?
1º D. Quixote (Cervantes)
2º Em busca do tempo perdido (Proust)
3º Odisseia (Homero)
4º O processo (Kafka)
5º A metamorfose (Kafka)
6º Ana Karenina (Tolstoy)
7º Moby Dick (Melville)
8º Contos (Chekhov)
9º Guerra e Paz (Tolstoy)
10º Ficções (Borges)

P. S. Uma última nota curiosa... Em 100 livros, apenas 5 foram escritos por mulheres: Carson McCullers, Emily Dickinson, Virginia Woolf, Jane Austen e Simone de Beauvoir.

sábado, 9 de agosto de 2008

passageiros entre palavras fugazes

Morreu hoje o poeta palestiniano Mahmoud Darwish. Morreu longe da sua terra, num hospital do Texas, nos EUA, como conta o jornal israelita Haaretz. Morreu porque o seu coração não aguentava mais. O que, para quem conhece a sua poesia, faz todo o sentido.
Descobri um livro dele em Jerusalém, há alguns anos, e acarinhei-o como um tesouro desde o primeiro momento. Gostei logo do título: Unfortunately, It Was Paradise. E regressei às suas páginas muitas vezes, buscando a clareza das palavras do poeta, na ânsia de compreender a alma e as dores do povo palestiniano.
Sou amiga de um primo seu, Ziad Darwish, jornalista da Cisjordânia que tantas vezes me ajudou a contornar check-points israelitas... E hoje choro com ele.


Passageiros entre palavras fugazes:
agarrem nos vossos nomes e vão-se embora,
Cancelem as vossas horas do nosso tempo e vão-se embora,
Levem o que quiserem do azul do mar
E da areia da memória,
Tirem todas as fotos que vos apetecer para saberem
O que nunca saberão:
Como as pedras da nossa terra
Constróem o tecto do céu.

Passageiros entre palavras fugazes:
Vocês têm espadas, nós o sangue,
Têm o aço e o fogo, nós a carne,
Têm outro tanque, nós as pedras,
Têm gases lacrimogéneos, nós a chuva,
Mas o céu e o ar
São os mesmos para todos.
Levem uma porção do nosso sangue e vão-se embora,
Entrem na festa, jantem e dancem…
Depois vão-se embora
Para nós cuidarmos das rosas dos mártires
E vivermos como queremos.

Passageiros entre palavras fugazes:
Como poeira amarga, passem por onde quiserem, mas
Não passem entre nós como insectos voadores
Porque temos guardada a colheita da nossa terra.
Temos trigo que semeámos e regámos com o orvalho dos nossos corpos
E temos aqui o que não vos agrada:
Pedras e pudor.
Se quiserem, levem o passado ao mercado de antiguidades
E devolvam o esqueleto à poupa
Numa travessa de porcelana.
Temos o que não vos agrada: o futuro
E o que semeamos na nossa terra.

Passageiros entre palavras fugazes:
Amontoem as vossas fantasias numa sepultura abandonada e vão-se embora,
Devolvam os ponteiros do tempo à lei do bezerro de ouro
Ou ao horário musical do revólver
Porque aqui temos o que não vos agrada
E temos o que não vos pertence:
Uma pátria e um povo exangue,
Um país útil para o esquecimento e para a memória.

Passageiros entre palavras fugazes:
É hora de vocês se irem embora.
Fiquem onde quiserem, mas não entre nós.
É hora de se irem embora
Para morrerem onde quiserem, mas não entre nós
Porque nós temos trabalho na nossa terra
E aqui temos o passado,
A voz inicial da vida,
E temos o presente e o futuro,
Aqui temos esta vida e a outra.
Vão-se embora da nossa terra,
Da nossa terra, do nosso mar,
Do nosso trigo, do nosso sal, das nossas feridas,


De tudo… vão-se embora
Das recordações da memória,
Passageiros entre palavras fugazes.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

fotos que valem milhões

Já está nas bancas de todo o mundo «o maior exclusivo do ano», como titula a Hello! (que também podem comprar na versão espanhola, Holla!). Com três semanas de vida, os gémeos de Angelina Jolie e Brad Pitt ocupam 17 páginas da revista.
A Hello! comprou o exclusivo mundial à Getty Images, com excepção da América do Norte, onde as fotografias são publicadas pela People. As duas revistas terão partilhado os custos da publicação - qualquer coisa como 8 milhões de euros...! O dinheiro foi entregue à Fundação Jolie-Pitt, que o aplicará em projectos de solidariedade.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Carla Bruni-Sarkosy

Carla Bruni, Primeira Dama de França, deslumbra na capa da edição de Agosto da Vanity Fair - fotografada por Annie Leibovitz, claro. Entrevistada por Maureen Orth, que a descreve como «a Jackie Kennedy Onassis de França», Bruni fala de tudo: como conheceu Nicolas Sarkosy, como pretende compatibilizar a sua carreira musical com os deveres no Eliseu e até como gostaria de se relacionar com as ex-mulheres do seu marido. Um artigo cheio de revelações, onde se conta ainda como o presidente francês reagiu ao facto de se realizarem leilões de fotografias da sua mulher nua: «Oh, gosto muito desta! Arranjas-me uma cópia?»